Artigo do leitor: Escrito com muita dor, lágrimas e indignação

Eu Karla Daniele de Sá Maciel Luz, juntamente com meu RG e CPF, (como me ensinou o colega Nilton Almeida) professora universitária, Dra. em Psicologia Clínica, venho a público REPUDIAR de modo enfático e categórico horrendo episódio que aconteceu na UFRN quando uma aluna foi constrangida a sair da sala de aula por estar com sua filha de cinco anos.

Tal fato nos provoca algumas reflexões. Em plena Semana da Mulher (de lutas e empoderamento) vemos uma mulher (diga-se uma fêmea) ser punida por ser mãe. E diariamente vemos isso…convivemos com isso…diariamente fêmeas que parem e amamentam são punidas e discriminadas por machos e (também) por outras fêmeas. Não é raro vermos alunas serem convidadas a se retirarem da sala de aula, por professores e (pasmem) professoras também, por estarem com suas crias.

Alunas que são impelidas a deixarem o meio acadêmicos porque precisam nutrir seus filhos com seus seios cheios de leite. Eu, somente eu que antes de tudo sou mulher/fêmea/mãe/amamentadeira estou simplesmente farta. Estou farta de tanto discurso demagogo, de tanta falácia coberta da mais elevada retórica e que na prática é outra coisa. Estou farta de projetos, de encontros e de rodas…estou farta de dizeres vazios que nada mudam.

A universidade com todo seu lado perverso e desumano vem me ensinando que GENTE NÃO PRECISA DE PROJETO GENTE PRECISA DE AFETO…e venho aqui para dizer MÃES NÃO PRECISAM DE PROJETO MÃES PRECISAM DE AFETO! Nada mais acolhedor para uma mulher recém mãe que o afeto de outra ou de outro…que a certeza que ela e seu filho ou filha são bem vindos. Justamente ontem eu dei um aula berçário no curso de Psicologia…aula berçário sim…tínhamos duas mães, com suas pequeninas crianças, com todos os apetrechos necessários. E que coisa linda quando as duas diante de um chorinho macio colocaram para fora os seis fartos e amamentaram com alegria. Que emoção ver mães nutrindo seres enquanto aprendem.

Sim minhas queridas, venham com suas crias, as embalem, as amamentem…sejam mães plenas enquanto estudam e enquanto lutam…Recordei-me quando precisei amamentar meu primeiro filho enquanto defendia a tese…agradeço ao orientador ‘humano’ que tive pois calmamente me permitiu nutrir Miguel e só depois retornar a arguição. Lindo também foi ver ontem a maternidade simbólica das colegas ao cercarem as colegas/mães em apoio fraterno solidário porque com ou sem filhos somos mulheres…somos simplesmente mulheres.

Lugar de mãe com filhos é TODO LUGAR. E novamente me desculpem, mas não pedirem desculpas, enquanto eu estiver em uma sala de aula mães e crianças são bem vindas…e se chorar eu paro a aula para ouvir…Na minha singela opinião o que se passa com muitas mães docentes e discentes é esquizofrênico: ao mesmo tempo em que esse meio acadêmico discute, reflete, elabora projetos sobre a situação da infância…a mesma infância é extirpada de nossa presença…paremos de teorizar…se não suportamos uma mãe e uma criança dentro da sala de aula, então já não suportamos a própria vida e isso contraria tudo que a maioria de nós vive a pregar no ambiente acadêmico.

E aqui vai o OSCAR da hipocrisia, que não vai para o LATTES, mas segue ferindo e machucando mães e filhos… Se mães e crianças não puderem estar no ambiente acadêmico francamente estamos muito pior do que imaginamos. Assim digo com orgulho de quem já teve três filhos (e anseia pelo quarto filho biólogo e o quinto adotivo) venham minhas queridas, empoderem-se, venham para sala de aula com bebês, com crianças, com apetrechos, com fartos seios…venham com seus pequeninos afetos e tragam cor e vida a um ambiente cada dia mais mórbido pela produtividade perversa.

Para encerrar dedico esse escrito a maior produtividade que tenho na vida e que nunca caberá no LATTES…pois é plena demais para caber na aba de uma currículo eletrônico: Miguel, Antonio e Joaquim. Vocês sempre estarão onde mamãe estiver.

2 Comentários

  1. Theo tuxá

    11 de março de 2018 em 16:58

    Adorável professora!
    A universidade ou professor (a) que cometeu tamanho crime, carece entender o sentido mais literal e profundo da pedagogia (tutorar crianças, jovens adultos). Sala de aula é lugar de aprender e ensinar, de construir conhecimentos, de reviver e viver a vida, de sonhos e perspectivas. As civilizações indígenas permitem crianças convivendo com adultos, aprendendo com os anciãos da tribo. Receba meus singelos elogios e admiração.

  2. Maria Anita

    12 de março de 2018 em 00:09

    Sábias palavras Professora,isso ocorre no ensino como um todo,jovens mães,mães jovens,fico a pensar:o censo revela ,os nem nem da vida,não trabalham ,não estudam,e é aí que entra a minha pesquisa sobre a evasão escolar,onde muitos escritores colocam veladamente a culpa nos estudantes,essa pode e sim para o censo,pois estãos tirando dela um direito primário:seguir o seu sonho, e ser mãe 24 por dia,sem intervalos para o banheiro.

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