Varíola do macaco: LGBTQIA+ não é grupo de risco, afirma especialista

A recomendação do diretor-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), Tedros Adhanom, de que homens que fazem sexo com homens reduzam o número de parceiros sexuais para minimizar o contágio e a transmissão da varíola do macaco, acendeu o alerta em especialistas de saúde e pessoas LGBTQIA+ sobre o risco do novo surto da doença ser estigmatizado como um contágio exclusivo dessa parte da população.

O receio dos especialistas é de que as informações e recomendações sobre a doença crie no imaginário popular o entendimento de que a doença é algo exclusivo de gays ou homens bissexuais, como foi erroneamente feito com o vírus HIV nos anos 1980, quando a doença ficou conhecida como “peste gay” — mesmo com o diagnóstico positivo ser registrado também em mulheres, bebês e usuários de drogas injetáveis.

Para a infectologista do Centro Especializado em Doenças Infectocontagiosas (Cedin) Joana D’Arc, o erro foi que a recomendação de Tedros abriu margem para que a comunidade LGBTQIA seja vista como um grupo de risco, o que não é verdade.

“O que existe é um comportamento de risco, no caso aqui é o contato íntimo, que não está relacionado a uma opção sexual ou a determinado grupo. Essa forma de transmissão pode ser feita por todos, não apenas homens que fazem sexo com homens. Além disso, essa via sexual é apenas uma das formas de transmissão, não é exclusiva”, pontua a especialista.

A varíola do macaco também pode ser transmitida por troca de gotículas (como a Covid-19) e pela utilização de toalhas e roupas de camas de uma pessoa infectada. “A gente tem alguns pacientes que contraíram por meio do contato em casa com outras pessoas que se infectaram fora. Não é exclusivo da população LGBTQIA “, compartilha Joana.

A especialista confirma a possibilidade de um estigma ser criado caso as informações não sejam dadas de forma clara. “Infelizmente, hoje em dia no Brasil temos muito preconceito com algumas populações. E quando você analisa que homens que fazem sexo com homens são os que mais se infectaram no momento, temos que ter muita cautela para não estar estigmatizando, como na época do HIV”, diz.

“As formas e as vias de transmissão são comuns para todos nós, repito, todos nós podemos ser vulneráveis”, declara a especialista. “Eles (homens LGBTQIA ) não são risco e nem grupo de risco. Na verdade, eles estão, agora, como vulneráveis pelo que os dados mostram”, diz.

Os dados, de acordo com Joana, devem servir para que os órgãos de saúde façam uma busca ativa e forneçam atendimento médico para essa parte da população. “Os registros têm que ser vistos como uma forma de prevenção e não como uma forma de estigmatizar. Tem que servir para traçar estratégias”, defende.

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