Artigo: Seu Padilha e sua Petrolina

Nunca houve quem amasse tanto Petrolina como um dia amou Antônio de Santana Padilha. Nascido, vivido e casado com a cidade, o escritor de contos, crônicas, teatro e poesia fez nascer dessa união o primeiro romance, ‘Pedro e Lina’ (1980), e a primeira cronologia histórica e cultural do município, ‘Petrolina no tempo, no espaço, na vez’ (1982).

Revestido de um bem querer que a tudo sublima, Toinho Padilha, como assim o chamavam os mais íntimos, não se contentando com a versão oficial do nome de Petrolina (uma homenagem ao imperador Dom Pedro II e sua esposa Dona Leopoldina), propõe numa narrativa épica a versão ficcional para a origem toponímica da cidade:

“Toda vez que frei Henrique dizia Pedro e Lina, sorria-se na assistência. No seu acentuado sotaque italiano, na palavra Pedro, abria o som do e, trocava a letra d por t e elidia a vogal final com o e da conjunção – pronunciava claramente: PETROLINA.” (PADILHA, 2007, p. 337)

No romance com 250 páginas, o livro de Seu Padilha, que era contabilista, jornalista e foi subprefeito (1930), adjunto de Promotor Público (1932 a 1940) e vereador (1947), conta em 66 capítulos a história do amor de um vaqueiro e a filha do fazendeiro patrão no final do século 19. Escrito com um apuro literário surpreendente, a obra apresenta em alguns momentos tempos narrativos distintos caminhando juntos e separados.

Como era considerado o poeta da cidade, o historiador, a referência cultural, Seu Padilha era chamado constantemente a escrever os discursos e saudações para recepção das autoridades. Foi assim na chegada do segundo bispo, Dom Idílio José Soares, e também no belíssimo pronunciamento que fez durante a recepção a Dom Avelar Bandão Vilela, o terceiro bispo de Petrolina. Muitos desses trabalhos foram reunidos no livro ‘Álbum de Saudações’ (1964).

À sombra de uma árvore na praça Dom Malan ou na porta do jornal “O Pharol”, do amigo João Ferreira Gomes (Sr. Joãozinho do Pharol), Toinho Padilha estava sempre em dia com  a Petrolina  e o bem querer. Seja no distante ano de 1923, quando aos 19 anos lançou em parceria com J. Fernandes o jornal humorístico O Alicate, ou em face da publicação do livro ‘Corre um rio de lágrimas’ (1965), o escritor petrolinense de corpo frágil garantia seu lugar na vanguarda dos acontecimentos e no sentimento de pertencimento que animava sua alma muito mais. A obra ‘Corre um rio de lágrimas’ contou com o prefácio de Rui Santos e ilustrações de Lula Cardoso Ayres e se constituiu no primeiro livro da região a fazer parte de uma coleção da Imprensa Oficial de Pernambuco.

Com horizontes abertos e foco na sensibilidade artística, sua presença fazia a diferença nos acontecimentos comunitários, culturais e esportivos da cidade que crescia como o “Jardim de Pernambuco à beira do rio plantado”, como definiu um dia Cordeiro de Miranda ou no dizer do monsenhor Angelo Vieira Sampaio “Terra dos Impossíveis”. Na terceira parte do livro ‘Petrolina no tempo, no espaço, na vez’, quando registra os acontecimentos entre os anos de 1924 a 1975, Seu Padilha ilustra os fatos e as crônicas do cotidiano com pequenos causos de um humor bastante refinado e cheios de curiosidades acerca de personagens de outros tempos e contemporâneos das mesmas pétalas à retina. São também obras publicadas por Antônio de Santana Padilha ‘Escrituração Relâmpago’ (contabilidade – 1945), ‘Superfície’ (versos – 1967) e ‘Ribeiril do São Francisco’ (poema folclórico – 1970), além dos livros que deixou inéditos ‘Pescadores do São Francisco’ (drama), Patriotismo (drama), ‘O Túmulo do Poeta’ (alegoria) e ‘Irmão Divino’ (cine-drama). A cronologia foi lançada quase um ano depois da sua morte, ocorrida em 1981, aos 77 anos, em decorrência de um problema do coração.

Para relembrar a data do nascimento de Seu Padilha (5 de setembro de 1904), Petrolina comemora o Dia Municipal do Livro, organizado pelo Colegiado de Letras da Universidade de Pernambuco (UPE), com uma programação que inclui contação de histórias, arrecadação de livros, roda de conversa com escritores, recital poético e leitura dramatizada. Ele também foi homenageado recentemente pelo 1º Festival de Literatura do Sertão do São Francisco (Flisertão), realizado pela prefeitura de Petrolina. Aos poucos, a nossa cidade vai (re) descobrindo e valorizando Seu Padilha. Um reconhecimento sincero ao nosso mais completo escritor que criou uma obra fantástica e estimulou em todos nós o amor maior por essa cidade única no mundo: Petrolina. Parabéns por esses 123 anos bem vividos.

*Carlos Laerte, Poeta, jornalista e publicitário.

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