Sem cubanos, Pernambuco terá mais gastos na saúde

Especialistas em saúde avaliam que a saída de médicos cubanos das unidades básicas de saúde aumentará a demanda da rede estadual de saúde, já saturada. Segundo eles, internações evitáveis diminuíram 8,7% em Pernambuco após a implantação do Programa Mais Médicos. Por isso, a previsão de ineficácia do edital lançado pelo Ministério da Saúde como medida de urgência preocupa os prefeitos. Quanto maior a cobertura da atenção básica, menos internações, prejuízos à saúde da população mais vulnerável e menos custo para o sistema de saúde.

Em Brejo da Madre Deus, no Agreste, o secretário de Saúde, José Edson, espera sobrecarga da UPA e aumento dos encaminhamentos para hospitais regionais, como o de Caruaru. Na cidade, 11 das 13 unidades de atenção básica eram ocupadas por cubanos. O novo edital reserva apenas 10 vagas para o município. Além disso, é improvável que as vagas sejam totalmente ocupadas. “É uma sucessão de prejuízos. Não acompanhando o básico, se prejudica o município e, em seguida, o Estado. Mas não há alternativa. Tem-se que aguardar.”

As internações por condições sensíveis à atenção primária (CSAP) são mais de 50% no Hospital Regional Fernando Bezerra, em Ouricuri. O número, relatado pela diretora da unidade, Glória Macedo, revela o abandono da saúde básica no Sertão do Araripe. “Sentimos uma grande inflada na quantidade de atendimentos que deveriam ser feitos na atenção primária quando os médicos brasileiros se demitiram há algumas semanas. O Ministério Público baixou decreto para que eles cumprissem as 40 horas. Eles pediram as contas”, relata.

Em Pernambuco, de todas as internações registradas, 16% são de CSAP. Antes da implantação dos Mais Médicos, eram 18% de um total menor. “Enquanto houve um aumento das internações gerais no período destacado, internações de CSAP tiveram redução de 8,7%. Quando a atenção primária tem seus atributos alcançados é capaz de resolver 80% dos problemas de saúde do território de sua responsabilidade”, detalha a doutora em Saúde Pública pela Fiocruz Gabriella Duarte Miranda.

Com a saída dos cubanos, Gabriella confirma que os desfalques nas equipes multidisciplinares devem levar ao aumento da procura por hospitais e do gasto do Estado. “Pesquisas em vários países mostra a influência da atenção básica na redução da mortalidade infantil e das internações evitáveis, na garantia do acesso e no menor custo ao sistema”, argumenta.

Os hospitais pernambucanos públicos, cronicamente superlotados, poderiam se qualificar melhor no tratamento de doenças mais graves, não fossem as internações evitáveis. “Estão cuidando de diabetes e suas complicações, de diarreias, doenças respiratórias. São evitáveis porque essas pessoas deveriam ter sido acompanhadas pela saúde da família, que faz um acompanhamento ao longo do tempo, criando vínculo com o paciente e sua família”, mostra a professora de medicina da UPE Bernadete Antunes.

A diferença entre a mentalidade dos médicos dos hospitais e dos que trabalham com atenção primária também influenciam na quantidade de internação e nos custos para a saúde. Foi o tema de uma das pesquisas do professor de medicina da Unimontes Antônio Prates Caldeira. “O médico da família percebe o alcance do tratamento ambulatorial. Nos hospitais, há uma crença de que a única saída é o tratamento medicamentoso mais pesado.”

A diminuição do custo por internações evitáveis devido à implementação do PMM foi comprovada em artigo de um professor da UFSC, o doutor em epidemiologia Fúlvio Nedel. Ele ressalta ainda o que pode parecer óbvio, mas nem sempre é levado em consideração: quanto mais necessários os médicos da família numa cidade, mais redução nas internações eles vão causar. (Folha PE).

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