Professor da Univasf dispara sobre Lista Tríplice: “Corremos o risco de ter um reitor que não foi estudado”

O professor da Universidade Federal do Vale do São Francisco, Gustavo Frensch, lotado no campus de Senhor do Bonfim (BA), enviou uma nota  para este Blog na quarta-feira (13)  onde expressa seu posicionamento sobre a elaboração da lista tríplice que será encaminhada ao Presidente da República.

No texto acalorado de questionamentos o docente  diz que não se trata de preferencia  e salienta que a escolha decidida nas eleições do último dia 05  deve prevalecer. “Ou ninguém sabia que a consulta informal se referia à composição de uma lista tríplice?”

Confira na íntegra:

Tenho visto diversos posicionamentos de docentes, técnicos e alunos no e-mail institucional, redes sociais e outros meios de comunicação sobre o processo de escolha do reitor para o quadriênio 2020/2024. Resolvi também fazer uso do meu direito de falar o que eu penso sobre isso.

Todos defendem a democracia: enquanto uns sugerem que a chapa vencedora indique 3 nomes para compor a lista tríplice, insinuando que a consulta informal teria escolhido “um projeto”, outros entendem que a lista deve corresponder ao resultado da consulta informal, na ordem como escolhida pela comunidade univasfiana. E todos sabemos que a consulta informal não vincula a eleição no Conselho Universitário.

É fato que a lista tríplice foi instituída pela Lei 5.540/1968. Esta lei pode ser criticada e existem argumentos consistentes a favor e contra ela.

Mas, por ora, é esta lei que baliza a escolha dos reitores e é a ela que devemos respeito. Se a lei não é boa, que se mude a lei. Mas enquanto ela existe, deve ser seguida – ainda mais em uma universidade pública federal.

Vale lembrar que, mesmo tendo sido aprovada no ápice da ditadura militar, em 1968, 51 anos atrás, ninguém se propôs a mudá-la até hoje. Nem mesmo os governos pós-redemocratização, desde Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso (acadêmico que era), até os governos de esquerda do PT. Ninguém moveu uma palha para retirá-la do nosso ordenamento.

Então, sendo assim, o Presidente da República vai escolher um de três nomes apresentados pelo CONUNI. É o que diz a lei, é o que vai acontecer.

E me pergunto: que democracia é essa que permite corrermos o risco da nomeação de um candidato que não colocou seu nome ao julgamento da comunidade acadêmica? Que democracia é essa que permite um reitor eleito com exatamente 0 votos, apenas por fazer parte do mesmo grupo político do candidato que venceu a eleição? Seria democrático? Penso que não. Penso até que, dados o contexto e a lei que temos, seria menos democrático do que a famigerada lista tríplice eleita no dia 5 de novembro. Pelo menos, todos ali colocaram “a cara a tapa”. Todos ali ouviram e foram ouvidos pela comunidade acadêmica. Todos ali colocaram o seu nome à disposição, para o escrutínio de sua história, suas competências e suas ideias.

Os tais candidatos da lista tríplice indicada pela chapa que ficou em primeiro lugar na consulta não passaram por nada disso. Ninguém sabe quem são. Portanto, ninguém pôde estudar a suas histórias. Ninguém pôde analisar as suas competências. Ninguém pôde ouvir suas ideias. Apenas sabemos que serão do mesmo grupo daquele que teve mais votos. Corremos o risco de ter um reitor que não foi estudado, analisado, votado.

Independente da minha preferência pessoal, de quem eu votei ou deixei de votar, acho que a nossa escolha do dia 05 passado deve prevalecer. Ou ninguém sabia que a consulta informal se referia à composição de uma lista tríplice? Ou ninguém sabia que o Presidente da República pode escolher qualquer um dos nomes, independente de número de votos?

Uma democracia em que se ignora a lei, ignora-se as tradições e ignora-se o bom senso, não pode ser chamada como tal. Uma democracia em que a maioria torce, entorta e verga as regras ao seu bel-prazer, não é uma democracia: é uma ditadura da maioria. E isso não cabe numa universidade que se diz plural, democrática e inclusiva.

A academia comporta diversidade de ideias, delírios, até devaneios, mas não comporta insensatez”.

Gustavo Frensch
Professor Adjunto 1
Colegiado de Ciências da Natureza – Campus Senhor do Bonfim
Universidade Federal do Vale do São Francisco – UNIVASF

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