Presidente da Vale diz que empresa não pode ser condenada por ‘acidente’

O presidente da Vale, Fabio Schvartsman, deixou deputados federais indignados, ontem, ao dizer que a companhia “é uma joia brasileira que não merece ser condenada por um acidente” e reconhecer que não sabe o que ocasionou o rompimento da barragem do Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG). A tragédia deixou 166 mortos e 155 desaparecidos. O executivo participou da primeira audiência pública da comissão externa da Câmara dos Deputados criada para apurar o desastre. A reunião durou seis horas. Durante o minuto de silêncio em respeito aos mortos, Schvartsman foi o único a permanecer sentado, de cabeça baixa, enquanto todos os presentes na sala lotada fizeram a homenagem em pé.

O dirigente tentou de todas as maneiras minimizar a responsabilidade da diretoria e da companhia. “A Vale existe há 70 anos e nunca tinha ocorrido problema de barragem. O primeiro foi no Córrego do Feijão, numa barragem que não foi construída pela Vale, e sim pela Ferteco (mineradora comprada pela Vale)”, justificou. Schvartsman também se eximiu do que ocorreu em Mariana. “Estou há apenas um ano e meio na presidência. Depois do acidente da Samarco (da qual a Vale é sócia), a empresa começou a fazer descomissionamento em todas as suas barragens a montante”, disse. “A razão de não ter feito antes foi porque não tinha ocorrido acidente até Mariana”, emendou.

Conforme ele, a questão das barragens “se sustenta numa pedra fundamental, que é o laudo de estabilidade”, concedido por especialistas. “É impossível, de outra maneira, gerir o sistema. Não pode ter burocracia”, ressaltou. Schvartsman disse que não há tempo de envolvimento de outros agentes a não ser os especialistas dos laudos.

Com ânimos exaltados, vários parlamentares rechaçaram a ideia de o desastre ser tratado como acidente e disseram estar ainda mais preocupados com a afirmação de que o presidente da companhia admite não saber o que ocasionou o rompimento. Houve até quem lembrou que, no período em que está à frente da empresa, Schvartsman recebeu quase R$ 40 milhões de salário e que, por isso, deveria estar a par de tudo que ocorre na Vale. Segundo a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), os vencimentos somam R$ 19 milhões por ano.

Providências
O executivo também apresentou as providências que a empresa está tomando. Ressaltou que mantém contato com um órgão norte-americano de licenciamento de barragens, o US Army Corps of Engineers, para intensificar a segurança nas suas estruturas. “A Vale, humildemente, reconhece que, seja lá o que vinha fazendo, não funcionou, pois uma barragem caiu. O que ocorreu foi inaceitável, por isso recorremos à ajuda externa”, explicou.

Questionado pelos parlamentares se a Vale sabia com antecedência da possibilidade de um rompimento e tinha até um estudo sobre o número de vítimas caso a barragem se rompesse, Schvartsman se defendeu. “Apesar de ser presidente da companhia, não sou dono da verdade. Não sei tudo o que acontece lá. O gerente local tem a autonomia de investimento de R$ 40 milhões para definir onde fica o refeitório ou se precisa deslocar um prédio sem perguntar nada para ninguém. Ele morreu no local, maior prova de que nós não sabíamos que isso ia ocorrer. Quando digo que foi uma surpresa é porque foi mesmo”, sustentou.

Sobre os estudos, o executivo justificou que existe uma obrigação legal imposta pela Agência Nacional de Mineração (ANM) de calcular o impacto de uma eventual falência das minas no número de vítimas. “Isso é lei. Em absoluto significa que a Vale sabia que algo ia acontecer a ponto de saber o número de mortos. Demos amplo acesso a todos os documentos, tanto que estudos em desenvolvimento vazaram e concluiu-se que a companhia já sabia. Era apenas especulação, que não chega à diretoria, fruto das condições a que estamos submetidos”, reiterou. (DP)

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