Obras da transposição e Transnordestina afetadas pela corrupção

transposiçãoConsideradas grandes vitrines do governo federal no Nordeste, as obras de transposição do Rio São Francisco e da Transnordestina caminham a passos lentos nas proximidades de Salgueiro, no Sertão de Pernambuco. Desde que o escândalo do petrolão estourou, devido às investigações da Operação Lava Jato, o número de funcionários nas duas obras diminuiu, atrasando ainda mais as intervenções previstas para 2016 (transposição) e 2017 (Transnordestina).

Em um dos trechos das transposição, por exemplo, onde ainda ocorre a etapa de concretagem dos canais, trabalham pouco mais de cem operários. O número vem aumentando aos poucos, segundo funcionários. “A obra não chegou a parar completamente, mas diminuiu bastante o número de gente trabalhando aqui. Foi mais ou menos depois que a Lava Jato estourou de vez, de novembro para cá. Chegou até a parar uma das etapas do cimento para os canais”, disse um dos operários que pediu para não se identificar. A Mendes Júnior é a empresa responsável por tocar a transposição. A construtora está envolvida nas investigações no esquema de corrupção na Petrobras e teria iniciado uma série de demissões em Salgueiro e proximidades depois que as irregularidade vieram à tona.

Outro problema que surgiu depois das investigações da Polícia Federal foi o atraso de salários dos funcionários terceirizados. Segundo informações dos trabalhadores, alguns setores, como vigilância e transporte, estão com até cinco meses de atraso. Tudo por conta da falta de repasse da Mendes Júnior para as empresas que prestam serviços na obra. “Teve mês que só tinha ovo para almoçar por aqui”, reclama um dos operários de segurança.

Orçada em R$ 8,2 bilhões, a transposição já consumiu R$ 6,24 bilhões. A obra conta atualmente com 9.193 funcionários, segundo o Ministério da Integração Nacional. A previsão era que o projeto fosse entregue em 2010. Cinco anos atrasada, a construção está 73,7% concluída, sendo 75,1% no Eixo Norte (que engloba Pernambuco, Ceará e Paraíba) e 71,6% no Eixo Leste (Pernambuco e Paraíba). De acordo com o ministro Gilberto Occhi, a promessa é que tudo seja entregue no primeiro semestre de 2016, ou seja, com seis anos de atraso. Por enquanto, a única água que se vê nos canais é da chuva que, vez por outra, cai no Sertão.

Com relação à Transnordestina, foi verificado uma pilha de trilhos estocada no entorno de Salgueiro, sem que houvesse algum tipo de proteção contra a erosão do solo e da chuva. Além disso, as plantas dividem o espaço com os trilhos, formando quase uma simbiose com o material. No ferrovia propriamente dita, apenas a vigilância da empresa terceirizada. No trecho próximo a Salgueiro a obra é dada como finalizada. Movimento mesmo, no entanto, só o de alguns vaqueiros que utilizam o caminho da via para se deslocar no meio do Sertão, em um cenário de solidão.

A Transnordestina começou a ser construída em 2006, ainda no governo Lula. O projeto prevê 1.728 quilômetros de ferrovia atravessando o Nordeste. A primeira cabeça da estrada nasce na cidade de Eliseu Martins, no Piauí. Em Salgueiro, a ferrovia deriva para Suape, em Pernambuco, para Pecém, no Ceará. Segundo o governo federal, serão 81 municípios beneficiados com a obra, que está prevista para ser entregue em sua totalidade em janeiro de 2017, com sete anos de atraso. Atualmente a intervenção está 48% pronta, sendo que o trecho de Salgueiro para Suape está 49% executado. De acordo com o Ministério dos Transportes, o número de operários passou recentemente de 4.535 para 5.867. O orçamento para a obra é de R$ 7,5 bilhões. As próximas etapas da ferrovia previstas no contrato englobam os trechos Eliseu Martins (PI)–Trindade e Salgueiro–Suape, com previsão de conclusão em outubro de 2016. O trecho Missão Velha (CE)–Pecém está previsto para ser entregue em janeiro de ano seguinte.

A ROTINA MUDOU

O esfriamento nas obras da Transnordestina e da Transposição, seja por conta do andamento lento das construções ou até mesmo pela conclusão de algumas etapas, começa a mudar a rotina da cidade de Salgueiro, mesmo que de maneira lenta. Sem a efervescência do pico das duas construções, o município já sente uma relativa queda em alguns setores de prestação de serviços. Não chega a ser uma mudança drástica, como alguns moradores destacam, mas já pode-se notar a diferença. “O movimento diminuiu em relação ao período entre 2009 e 2013 (considerado o auge). Tinha época que o aluguel aqui chegava a uns R$ 800. Era gente de fora indo e vindo na cidade a todo momento. Só que mesmo diminuindo continua bom. Quem quer consegue. Aqui mesmo não falta cliente”, disse o barbeiro João Candeia, 77 anos. A barbearia dele existe há 52 anos em Salgueiro e pegou toda a mudança na cidade provocada pela chegada das obras. Já com relação à rede hoteleira não há um consenso. Alguns donos de hotéis dizem que houve queda na procura por quartos, enquanto outros não notaram a diferença nos últimos anos.(JC Online).

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