Mais de 307 mil baianos estão com IPVA atrasado; Juazeiro (BA) aparece entre as 10 cidades com maior número de inadimplência

O desemprego aumentou, a renda caiu e os baianos deixaram de pagar o Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA). De acordo com a Secretaria da Fazenda do Estado da Bahia (Sefaz), 307.059 pessoas estão com o tributo em atraso no estado. Isso corresponde a 13,95% do total da frota tributável da Bahia, que tem mais de 2,2 milhões de veículos.

O representante de uma empresa de móveis, Raul Silva (nome fictício), é um dos que não pagaram o imposto do carro – um Ecosport. Com as multas por estacionamento em local errado, o licenciamento e o IPVA atrasados, a dívida chega a R$ 1.200. Ele, que não atrasava nenhuma conta, está sem pagar desde março deste ano. Ele também cancelou o seguro e atrasa outros boletos, como o de água, luz e condomínio.

“O negócio da gente ficou oscilando muito e nem posso ficar atrasado [com o IPVA] porque o trabalho é 90% na rua. Mas estamos tendo irregularidade nas vendas e inadimplência dos clientes que nunca deram problema, principalmente agências de turismo e clínicas médicas. Estão todos com pendências financeiras. E, se o cliente não paga, a gente fica apertado”, conta ele.

Ele afirma que seu faturamento caiu 70% com a pandemia da covid-19. “Muita gente está trabalhando home office e não no escritório, então a procura por esses produtos no mercado caiu. As pessoas não estão investindo mais. No máximo uma cadeira, uma mesinha”, adiciona. O rombo no caixa, com a falta de pagamento dos clientes, é de R$ 100 mil. Por isso, ele precisa tirar a reserva do capital de giro. “É uma guerra. A gente atrasa uma conta um pouquinho, depois paga duas, antecipa uma, atrasa outra. Acredito que só volte à normalidade em janeiro”, estima.

Multa de 60%

Já um cirurgião dentista de 23 anos, de Jacobina, no centro-norte da Bahia, está sem pagar o imposto desde agosto. A sorte é que ele não usa tanto o carro, pois mora perto do trabalho. “Uso mais para viagem, quando vou para Feira de Santana. Passo um final de semana lá a cada 15 dias”, conta ele, sob condição de anonimato. Ele trabalha em uma clínica popular da cidade, mora sozinho e tem um Polo 2018 há um ano.

Com a pandemia, o salário dele reduziu pela metade. Por isso, atrasou o boleto, coisa que nunca tinha acontecido antes, segundo ele. No entanto, a multa está em 60%, pelos quatro meses de atraso. “Essa pandemia afetou bastante meu financeiro. E, agora que olhei no site da Receita Federal, tem multa de R$ 800 por atraso no pagamento. Não sei quando nem como vou pagar”, confessa o dentista. Somado ao IPVA e ao licenciamento, o débito total que ele tem com o estado ultrapassa R$ 2.100. “Só conseguiria pagar se fosse sem os juros”, diz. O seguro do carro, por ser parcelado no cartão, está em dia.

Outra pessoa, que também não quis se identificar, chegou a pedir ajuda pelo Twitter. A mãe dela tem uma empresa de eventos e, nos últimos dois anos, ficou sem trabalhar. Os custos da casa eram pagos com ajuda de terceiros e o carro é instrumento de trabalho. No último final de semana, ele foi apreendido pela secretaria de trânsito da cidade. “Estou no desespero. Faríamos nosso primeiro evento depois de dois anos, neste sábado. Mas, como temos IPVA atrasado, a polícia prendeu o carro e não tenho dinheiro para pagar. Essa situação é muito humilhante”, conta a internauta.

As 10 cidades com maior número de inadimplência são Salvador, Feira de Santana, Vitória da Conquista, Camaçari, Lauro de Freitas, Juazeiro, Itabuna, Barreiras, Teixeira de Freitas e Jequié, segundo a Sefaz. A pasta informou ter gerado as devidas notificações fiscais aos devedores.

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