Inflamação crônica e resposta lenta ao vírus levam obesos a maior risco e morte por Covid-19

Um estudo avaliou como o sobrepeso e a obesidade são fatores de maior risco para gravidade e morte por Covid-19, levando à internação hospitalar e até morte, independentemente da idade, sexo e comorbidades.

Os dados foram publicados por pesquisadores da Faculdade de Odontologia de Bauru (USP Bauru) e da Faculdade de Medicina da Unesp de /Botucatu na revista especializada Obesity Research and Clinical Practice no início do mês de setembro.

Dados do Vigitel (Sistema de Vigilância de Fatores de Risco para doenças crônicas não transmissíveis), do Ministério da Saúde, de 2019 apontam que 20,3% da população brasileira adulta é obesa (índice de massa corpórea ou IMC igual ou acima de 30). Já a porcentagem da população adulta com excesso de peso (IMC igual ou maior de 25, incluindo casos de obesidade) é de 55,4%.

Os fatores da obesidade que estão associados a esse risco são uma inflamação crônica baixa do organismo, a baixa produção de interferons –proteínas que impedem a replicação viral–, atividade reduzida de células de defesa, como macrófagos –responsáveis por eliminar as células infectadas–, células B –responsáveis pela produção de anticorpos neutralizantes– e linfócitos T –resposta imune celular.

Também são fatores a maior carga viral do Sars-CoV-2 nestes indivíduos –o vírus parece se aproveitar do acúmulo de tecido adiposo como reservatório– e ainda a associação frequente de diabetes do tipo 2 com obesidade, causando um déficit ainda maior no sistema imunológico.

Utilizando um método combinado de revisão sistemática com meta-análise –análise dos dados de diversas pesquisas já publicadas, sem fazer novos estudos empíricos–, os pesquisadores analisaram nove artigos científicos publicados até o dia 27 de abril, sendo a última busca realizada no dia 3 de maio.

O estudo, coordenado pela pesquisadora Sílvia Sales-Peres, da USP Bauru, avaliou um total de 6.577 pacientes internados com Covid-19 em estado grave em cinco países: China, França, Espanha, Itália e Estados Unidos.

Cerca de 56,2% dos indivíduos que apresentaram complicações graves pesquisados eram obesos.

Na amostragem, a maior parte dos pacientes era homem (59,8%), e as comorbidades mais frequentes eram hipertensão (51,5%), diabetes (30,3%) e doenças do coração (16,7%).

O risco provável para pacientes obesos e não-obesos contrair Covid-19 independentemente de severidade não foi estatisticamente significativo, mas isso pode estar relacionado à quantidade de pacientes obesos (107) versus não obesos (356) incluídos na pesquisa.

Porém, quando avaliadas a progressão da doença e a mortalidade, essas foram positivamente associadas à obesidade. A taxa de mortalidade global encontrada pelos pesquisadores para pacientes obesos foi de 9%.

Segundo Sales-Peres, houve uma subnotificação nos primeiros trabalhos sobre Covid-19 dos pacientes com obesidade. “Os primeiros estudos avaliaram severidade em pacientes com hipertensão, diabetes, doenças cardiovasculares.

Mas eles não avaliaram que esse paciente hipertenso era obeso, que esse [paciente] diabético era obeso. Cerca de 33% dos obesos têm diabetes do tipo 2 e 60% dos indivíduos com sobrepeso ou obesidade têm hipertensão.”

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