Câmara de Vereadores de Juazeiro aprova projeto de lei que institui Dia Municipal dos Povos de Terreiro

Mulheres e homens em vestimentas volumosas e de cores diversas, com turbantes na cabeça e uma expressão de sorriso no rosto. Havia ainda jovens, crianças, adolescentes vestidos em trajes africanos e usando colares de contas. Eram os povos de terreiro, das religiões de matrizes africanas, que lotavam a Câmara de Vereadores de Juazeiro, na noite desta terça-feira, 10, para ver de perto a aprovação do Projeto de Lei Nº 3.122/2014, que institui o dia 08 de dezembro como o Dia Municipal dos Povos de Terreiro.

O projeto de lei é de autoria do Vereador Tiano Félix e ganhou com 16 votos favoráveis. “Ano passado, durante o Fórum, houve uma provocação sobre criar um dia dos povos de terreiro e eu me comprometi a levar esse projeto adiante. Participei de rodadas de conversas em vários terreiros, falamos sobre sua cultura, mas principalmente da matriz religiosa, e através desse sentimento nasceu o projeto. Ele servirá como um instrumento de defesa social, de fortalecimento da cultura e também de defesa de sua religião. Defendo porque acho importante, porque faz parte de nossa história, de nosso passado. Juazeiro é uma cidade que tem muitos quilombos e isso não é falado. Quero parabenizar a SEDIS por ter encampado a luta para a construção desse projeto e não tenho dúvida de que, tornando-se lei, esse povo será mais respeitado”, disse o Vereador.

A votação do Projeto de Lei foi feita dentro da programação do Novembro Negro 2015, uma realização da Prefeitura Municipal, através da Secretaria de Desenvolvimento e Igualdade Social. “Acredito que a aprovação desse projeto de lei é um fato histórico para a cidade de Juazeiro, para a nossa cultura. Acredito que as políticas públicas afirmativas vão chegar cada vez mais para esse povo e isso é um momento muito feliz, uma grande conquista para todos nós, um passo importante para a igualdade racial, para a igualdade religiosa”, afirma Lindsai Amaral, gestora da pasta.

Entre as Yalorixás presentes, estava a Senhora Adelaide dos Santos, a Mãe Adelaide do Terreiro Ilê Abasy de Oiá Guenã, do Bairro Kidé. Em julho desse ano o seu terreiro foi vítima de intolerância religiosa, tendo sido apedrejado, assim como a sua casa. O caso continua sendo investigado pela Polícia e Ministério Público. “Eu fiquei triste com tudo que me aconteceu, mas as duas pessoas que eu vi jogar as pedras, pedras que quase matam minha netinha, já entreguei a Deus. Não faço mal a ninguém, não tenho inimizades, me dou com todo mundo. Sou uma das fundadoras daquele bairro, tenho 53 anos que moro lá. Hoje estou é feliz por essa vitória, por ser criado um dia dos Povos de Terreiro, uma data que vai nos representar. Fazemos parte de religiões que sofrem preconceito grande, mas com uma data nossa, um dia onde a gente pode comemorar e festejar em público, a gente mostra que existe e o respeito começa a acontecer”, conclui.