Cabrobó (PE): Após conflito envolvendo Igreja Assembleia de Deus e comunidade indígena, liderança Truká emite nota

Após a repercussão sobre a derrubada de uma  construção recém-iniciada de uma igreja Assembleia de Deus na Ilha da Assunção,  área indígena em Cabrobó (PE), uma liderança indígena  Truká se manifestou em nota para esclarecer as garantias previstas pela Constituição Federal Brasileira para a  população indígena e suas terras, e  o desrespeito  provocado por um grupo  evangélico   iniciar a  obra naquele território.

A derrubada da igreja aconteceu após declarações feitas por um pastor da igreja sobre a religião do povo Truká.  O Cacique Bertinho sinaliza em nota que a comunidade  não  permitirá que um grupo religioso desrespeite, difame ou interfira no modo de vida daquela população, e que lutará pela preservação dos costumes, crenças, tradições e espiritualidade.

NOTA DE ESCLARECIMENTO

“A Constituição Federal Brasileira (Art. 231 e 232) reconhece o respeito às formas de organizações próprias dos povos indígenas, além de suas crenças, costumes, usos e tradições bem como os direitos originários dos povos indígenas sobre suas terras.

O Decreto 5051/04 (Convenção 169 da OIT) reafirma o reconhecimento desses direitos constitucionais e ressalta o direito de autonomia dos povos indígenas, no sentido de garantir o respeito às formas diferenciadas de vida e organização de cada povo indígena, seus anseios, planos de vida, de gestão e de desenvolvimento de seus territórios, afastando-se antigos ideários de assimilação e sua superioridade ou dominação frente aos povos indígenas.

Diante das leis acima, começo a esclarecer os fatos que estão gerando muitos comentários nas redes sociais, muitos criticam o manifesto que foi feito no último sábado, dia 24/04/2021, por Indígenas Trukás, que revoltados com as declarações feitas pelo senhor Jabson, pastor da Assembleia de Deus e cansados de tantos descasos dentro do território que há muito tempo vinham vivenciando o desrespeito feito por alguns membros evangélicos, como por exemplo o não cumprimento de acordo feito pelos Caciques e Lideranças Indígenas Trukás, só mais uma informação, para construir ou fazer qualquer obra no território indígena, faz-se necessário à consulta prévia para saber se as lideranças indígenas aceitam ou não determinada ação.

Em nenhum momento as lideranças foram procuradas pelo pastor para dar anuência para referida construção, por diversas vezes os representantes da Assembleia aqui na Ilha de Assunção foram procurados para conversar, mas mesmo diante da decisão da organização interna, os mesmo continuaram a insistir na construção de uma igreja. Nós não fomos às redes sociais difamar a religião de ninguém, pelo contrário, fomos nós que tivemos nosso sagrado desrespeitado pelo pastor. Imaginem se fossemos nós indígenas que tivéssemos difamado a religião do pastor e achando pouco, fossemos construir uma aldeia na sua igreja, digo, dos irmãos. Talvez não desse tantos comentários, sem fundamentos, sabe por quê? Porque vivemos em uma sociedade hipócrita, onde as minorias são tratadas as margens da sociedade.

Há séculos lutamos pelos nossos direitos, não vai ser por algumas críticas que vamos desistir de nossos ideais, todas as nossas conquistas ouvimos criticas, porém isso não nos fragiliza, nossos ancestrais foram duramente perseguidos, escravizados e muitos mortos para conquistar nosso território sagrado. Não iremos permitir que um grupo religioso desrespeite, difame ou interfira no modo de vida da nossa comunidade, lutaremos para que nossos costumes, crenças, tradições e espiritualidade sejam preservados. Iremos enfrentar o que for preciso para dar continuidade a história dos nossos GUERREIROS que tombaram na luta. Que Tupã e nossos Encantados de Luz continuem nos dando força para lutar ate quando for necessário, sempre dentro da nossa organização”.

Cacique Bertinho – Liderança Indígena Truká

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