Artigo do leitor: Seu Emmanuel, quando o amor venceu a dor

Depois de tantas tempestades vividas pelo poeta Manuca, a sua escrita poética
ressurge em um novo nascer com muita força e uma deliciosa lírica, recheada com a razão
dos despojados, o amor puro de infância e enaltecimento amoroso a esposa.

Uma lírica com o aprendizado de quem muito nos ensina; a pureza da escrita que classifica os gênios do pensamento; a coragem de um homem sem medos e que não chorou. Se chorasse, não
seria pelas dores vividas no seu epílogo, mas pela nobreza de quem muito amou, de quem
foi exemplo no martírio e tentou superar o deserto das incertezas em um só ritmo. No
ritmo de quem sabia que o amor e o trabalho vencem tudo!

Manuca amou a escrita, a poesia, as frases de efeito e a literatura como ninguém.
Assim, ele venceu sem tempo para ficar, foi passear na alameda das rosas para nunca mais
voltar. Por amor, nos deixou de presente uma obra com os seus últimos poemas, as
lembranças do dia a dia na amorosa vivência em sua família e os afagos dados e recebidos
dos amigos que ele tanto prezava. Ainda mais, com a sua garra em sobreviver aos
desgastes da carne, sem se lamentar, e, com a dignidade de quem já sabia que partiria no
despertar de uma tarde de luz.

Em cada passagem da sua obra poética “Seu Emmanuel”, pude sentir, como se
comigo fosse. A realidade de quem sabia de que aqui nada é o suficiente diante da
posteridade, de que nada pode ser mais afortunado do que o exemplo. Seu exemplo não
foi com ele, ficou! Permanece na sua poesia, paz transmitida e composições. Em especial,
no seu modo irreverente de viver como se estivesse “esperando na janela” a hora de partir,
sem se dá conta de que partiria muitos corações apaixonados por ele e também por suas
poesias.

“Seu Emmanuel” é um livro autobiográfico de um fatídico período da vida de
Manuca. Na obra lê-se um misto de autoestima fora do comum, com uma solidez de
personalidade forte, mas ao mesmo tempo piedoso, justo e interminável para a vida ou
para a morte. Manuca não morreu! Dorme nos sonhos de todos nós amigos, família e
admiradores, e, sobretudo, no sonho da literatura brasileira que tanto precisava de
autenticidade para poder continuar na esteira do tempo dos grandes literários.

No seu último poema, o qual destaco do livro, o poeta faz uma declaração de amor
a quem ele verdadeiramente amou: sua esposa e musa Lu Almeida, sua protetora, estéio,
lua, sol e tradução da vida do poeta que ainda reside na memória e no coração. Eis que o
notável poeta descreve:

“Sua dor está ligada à minha alma, a sua alma está ligada ao meu coração, a minha vida
está ligada ao meu sorriso e o seu sorriso ao meu coração”. Finalizou assim a sua verve
tão verdadeira e tão simples, mas contagiante.

Quando li esse poema, chorei! Não pela dor do seu sofrimento antes da partida,
mas pelo amor que lhe foi constante na vida. Desse modo, diante da minha emoção
afetiva, quis lhe fazer uma homenagem escrevendo o poema Choro de Amor, a seguir:
“Se chorei foi por amor, Chorarei assim se necessário for.
O meu pranto nunca será de dor, mas sempre de amor.
Bem sabe o mundo que só choro por amor,
Chorar de dor não me inundam os olhos,
Chorar de amor transborda meu rio afetivo.
Não chore de dor
Chore por amor,
Mesmo na travessia do deserto em ti.”.

Manuca foi andarilho no mundo, embora Juazeiro sendo seu porto de chegada e
de partida. Era Juazeiro que ele amava como, talvez, ninguém amou. Por amor e
reconhecimento ao poeta, nossa terra tem que ser justa à sua memória e garra de levar
Juazeiro até o pedestal do Grammy Latino junto a seus parceiros musicais Targino
Gondim e Raimundinho do Acordeon. Ainda mais por deixar um legado poético que,
certamente, confere ao Vale do São Francisco, a Bahia e ao Brasil a grandeza e a
importância literária na eterna persona: Seu Emanuel, o popular poeta e cidadão Manuca!

Osanah Setúval
Poeta e Jornalista
22.05.2021

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