Após queda de meteorito, Pesquisadores do Brasil e do mundo viajam para Santa Filomena (PE)

Nos últimos 15 dias, a vida em Santa Filomena, cidade do Sertão localizada a cerca de 710 quilômetros do Recife, virou do avesso. A queda de um meteorito, ocorrida na manhã do dia 19 de agosto, fez pesquisadores, colecionadores e curiosos do Brasil e do mundo irem até o município numa corrida atrás dos fragmentos do objeto. Enquanto alguns moradores tentam vender os pedaços que encontraram, outros procuraram tentar deixar o ocorrido marcado de alguma forma para as futuras gerações. A prefeitura está criando um grupo de trabalho para orientar o público, mas se sente de mãos atadas para agir diante da falta de legislação específica sobre o assunto.

O estudante Luiz Fernando de Castro Souza, de 18 anos, é entusiasta do mundo da astronomia. Ele idealizou o Grupo Astronômico de Santa Filomena (GASF), que já tem cinco integrantes, ávidos para montarem uma base de monitoramento na cidade e tentar comprar um pedaço do meteorito, para que fique na cidade uma lembrança desse momento histórico. O fragmento será colocado em um espaço de visitação pública, ainda a ser definido.

No entanto, a ideia é embrionária e precisa de apoio. Um dos meios é uma vaquinha virtual – vakinha.com.br/vaquinha/incentivo-para-pesquisas-astronomicas-de-jovens-estudandes-filomenenses – criada para ajudar no custeio, mas o grupo também está em tratativas com instituições e políticos para tentar viabilizar a ideia. Por sinal, nos próximos, dias, o GASF irá visitar algumas propriedades privadas para continuar a busca por fragmentos.

“Isso reanimou a cidade porque aqui é um lugar muito desassistido pelo poder público. Ninguém sabe quando vai acontecer de novo e precisa ficar marcado de algum jeito, para que as pessoas saibam que aqui foi a cidade do meteorito. A prefeitura poderia ter esse interesse, mas até agora não percebi essa vontade”, conta Luiz.

O bombeiro civil Edimar Costa, 20, lembra de ter encontrado um meteorito de grande a 400 metros de sua casa, perto da Igreja Matriz da cidade. “Todo mundo ficava olhando, mas ninguém queria pegar. Ninguém sabia o que era mas eu, que já tinha uma noção de astronomia por gostar do assunto, peguei e levei para casa. Um tempo depois chegou gente da prefeitura pedindo para eu guardar o material, porque viriam pesquisadores de fora para estudar o fenômeno”, recorda.

“Foi uma loucura. A notícia se espalhou e começou a vir gente dos Estados Unidos, do Uruguai, da Colômbia. E a população também começou a caçar a pedra, muitos venderam, inclusive, para colecionadores estrangeiros”, conta. O preço da grama varia entre R$ 20 e 40. “Todo mundo estava vendendo. Eu vendi para os pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) que estavam aqui porque não teria condições de ficar com isso, não sou da área. É melhor que fique com quem possa estudá-la direito”, prossegue.

Correria

O maior fragmento, até o momento, foi encontrado por um produtor rural que não quer se identificar, que teme ser roubado. Pesa cerca de 38,2 quilos. O pesquisador André Moutinho, que é um dos fundadores da Rede Brasileira de Meteoros (Bramom), chegou a conhecer a peça. “O proprietário fez um esquema para a gente poder conhecer em um lugar da cidade. Só que começou a juntar muita gente curiosa”, relembra.

“A cidade é pequena, então quando as pessoas viram que tinha gente comprando meteorito, começaram a procurar. E aí que outras massas (fragmentos) começaram a ser encontradas. No Brasil, não existe nenhuma legislação sobre isso. O que há é o entendimento de que o pedaço é de quem encontrou ou do dono do terreno onde caiu”, adiciona.

André ficou cerca de duas semanas na cidade, participando ativamente das buscas: “O lugar onde houve a queda é muito bom para busca de meteoritos. Em dez anos que participo dessas buscas, foi o melhor lugar que encontrei. E assim, é possível que pelos próximos meses ainda encontrem fragmentos. Então, não precisa ficar essa briga por pedaço de meteorito, tem para todo mundo”.

Ele elogia a ideia do GASF, de criar um memorial com o fragmento para ficar de lembrança. “Não precisa ser nem a pedra gigante, de 38 quilos. Pode ser uma menor, de um bom tamanho, colocar poster, banner, para quem vier de fora conhecer, ser um lugar de referência. Seria bem bacana”, opina.

Por fim, a pesquisadora Diana Andrade, do Observatório do Valongo, da UFRJ, também acredita que a cidade deva ficar com um pedaço de lembrança. “Eles vão ganhar muito com o turismo, cultura, vai incentivar a população a entender mais sobre ciência. Acho que vale a pena”, avalia.

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