O processo de impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff (PT), cujo desfecho ainda não foi definido, poderá ter um impacto significativo nas eleições municipais em Pernambuco, principalmente nas cidades onde o PT terá candidatura majoriária própria. No Estado, a petista obteve uma votação significativa no segundo turno das eleições presidenciais de 2014, com 70,2 % dos votos válidos contra 29,8% do segundo colocado Aécio Neves (PSDB), em um contexto em que o candidato tucano contou com o apoio do governador recém-eleito Paulo Câmara (PSB). Entretanto, a imagem da presidente tem sido desgastada paulatinamente, desde o início do processo de impedimento.
De acordo com o cientista político Elton Gomes, apesar da eleição municipal ter uma dinâmica diferenciada em relação a temas nacionais, a magnitude do desgaste sofrido pelo Partido dos Trabalhadores pode representar uma dificuldade a mais para os candidatos majoritários alinhados à sigla, caso a presidente permaneça afastada, ou pode resultar em um fortalecimento dos petistas que disputem prefeituras, caso a presidente retorne ao poder.
O estudioso, contudo, considera improvável que a presidente retorne ao seu cargo nas atuais circunstâncias. Caso ela permaneça afastada, Elton Gomes disse acreditar que os petistas utilizarão a versão de “golpe branco” contra a presidente.
“Seguramente o discurso do golpe será lançado. O PT precisa fazer isso para preservar sua clientela política. O eleitor tradicional do PT se sente confortável com esse discurso. É possível que Daniel Coelho seja acusado de golpista por candidatos mais à esquerda, mas ele irá contrapor isto com outra narrativa. Entretanto, isso não é determinante para a campanha municipal, que gira em torno de temas mais cotidianos, como mobilidade, por exemplo”, falou. (Folha PE).
Na visão de José Nivaldo, especialista em marketing eleitoral, ainda é muito cedo para especular sobre o cenário nacional no período das eleições municipais. O publicitário crê que apenas após o término das eleições será possível entender a influência do impeachment nas candidaturas individuais, de maneira que não seria uma boa estratégia para os candidatos, a princípio, focar na temática nacional, uma vez que ela pode ser desfavorável para todos os grupos políticos ao longo da campanha.
“O Brasil está vivendo uma conjuntura política e institucional inédita. A situação é de extrema volatilidade, ou seja, o potencial da Operação Lava Jato e do processo de impeachment da presidente – para citar apenas dois fatores – em gerar fatos novos, tem se mostrado praticamente inesgotável. Nessa confusão, ninguém de bom senso vai tentar tirar proveito da crise nacional. Essa instabilidade não é boa para ninguém, pois o beneficiário de hoje pode não ser o de amanhã. Tirar proveito seria como lançar pedras para o alto e contar com o risco de que elas caiam na sua própria cabeça”, comentou.
José Nivaldo também acredita que os candidatos mais experientes podem se sair melhor diante da imprevisibilidade da eleição. “A princípio, todas as forças políticas estão neutralizadas em relação ao impeachment. Isso vale para qualquer situação, Dilma retornando ou não à Presidência da República. Não tem como saber até que ponto isso beneficiará A ou B. É uma briga de foice no escuro, por isso o perfil do candidato influenciará. Quem tiver um perfil de seriedade e experiência pode ter uma vantagem”, analisou.