Petrolina: Carta Aberta à Coordenação Geral da Fundação de Atendimento Socioeducativo-Funase

Sirvo-me do presente instrumento para tornar público aquilo que há muito tenho experimentado no meu cotidiano profissional. Até o momento da elaboração deste documento, as dificuldades e entraves vivenciados no meu dia- a-dia de trabalho eram compartilhadas com colegas da instituição, com a direção local e nos espaços onde me era possível colocar as angústias, aflições e sonhos, sim sonhos, de um amanhã mais acessível.

Hoje, após quase seis anos de exercício profissional vejo a necessidade de ampliar a minha voz e alcançar lugares, espaços que até então me foram vetados, quero tornar visível o que hoje é restrito, reservado, abafado e levado a uma esfera particular. E se existe algo que todos estes anos me fizeram “enxergar”, ter uma forte convicção é a de que vetar direitos, vetar acessibilidade de um ou de uns é reação em cadeia e em algum momento silenciar significa perpetuar uma era de não direitos.

Em junho do ano de dois mil e treze ingressei como psicóloga no quadro efetivo da Funase ocupando vaga destinada a pessoa com deficiência- PCD, contudo, apesar do conhecimento dessa condição, a partir da capacitação “vi” que efetivamente a instituição Funase não detinha qualquer noção da responsabilidade e das condições mínimas que um profissional assim requer.

A Lei nº 13.146, (Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência) em seu Capítulo VI – Do Direito ao Trabalho, em seu artigo 34. &2º preconiza que: As pessoas jurídicas de direito público, privado ou de qualquer natureza são obrigadas a garantir ambiente de trabalho acessíveis e inclusivos. No &5º É garantida aos trabalhadores com deficiência acessibilidade em cursos de formação e capacitação.

Contudo, no decorrer dos anos, foi se somando no meu dia-a- dia de trabalho as impossibilidades e entraves…desde o meu acesso a sala de trabalho até o instrumental que me permitiria apresentar o resultado da minha prática profissional. Hoje ainda não possuo meios de apresentar em ambiente físico ou virtual as intervenções realizadas com os efetivos destinatários do meu fazer profissional e aquilo que venho a produzir não traduz os inúmeros esforços: diários, constantes e silenciosos de formalizar o resultado do meu trabalho.

Com este documento pretendo dar visibilidade as impossibilidades enfrentadas cotidianamente no meu ambiente profissional ao tempo que venho requerer que diligências sejam tomadas. Resta – me concluir que há sim uma deficiência, contudo, mais relevante e impeditiva é a conduta institucional que ao não oferecer acessos cerceia direitos e ao mesmo tempo que me diz “vem por aqui” taxativamente me impõe a não permissão de prosseguir. Quero declarar que tenho direito a ter direitos e na verdade, antes de necessitar trazer para meu laboro a exigente tarefa de me fazer visível, aprendi, no ordinário da minha vida que não é só negligente toda a falta de iniciativa, é violenta, e diante disso não perdi a capacidade de enxergar!

Petrolina, 22 de fevereiro de 2019.

Julianna Caffé Lima Moreira
Psicóloga
Analista em Gestão Socioeducativa/FUNASE-CASE Petrolina/PE
PCD-Deficiência Visual

1 Comentário

  1. Antonio Marcos

    22 de fevereiro de 2019 em 23:57

    Juliana Caffé, parabéns pela iniciativa e coragem.

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